Logo ótimo estar
Pesquisar
Close this search box.
"O FIM DA SOCIALIZAÇÃO POR AVATAR"
"O FIM DA SOCIALIZAÇÃO POR AVATAR"

“O fim da socialização por avatar”

Fim do jogo de EA Land e seus avatares. EA-Land não era um videogame normal. Não havia monstros, nem matança e, embora tivesse alguns elementos competitivos, para muitos jogadores o objetivo era apenas socializar.

É belo modelar uma estátua e dar-lhe vida, mas é sublime modelar uma inteligência e dar-lhe liberdade.

Alguns meses antes do fim do mundo, todos estavam se despedindo. O mundo que estava acabando era o “The Sims Online”, uma versão online do The Sims. Embora The Sims tenha sido um dos jogos de computador mais populares já feitos, a versão on-line multiplayer não foi bem. Apesar de renomear o jogo como “EA-Land”, as vendas não melhoraram e, para desespero dos fãs, a EA Games decidiu desligar.

Fã do jogo se despede de seus amigos virtuais. Vídeo: Canal do Yotube de fã.

EA-Land não era um videogame normal. Não havia monstros, nem matança e, embora tivesse alguns elementos competitivos, para muitos jogadores o objetivo era apenas socializar. Era apenas um lugar para se reunir, conversar e conhecer estranhos. Foi um lugar agradável. Foi íntimo. E estava programado para o apocalipse virtual.

Efeito psicológico do avatar e do seu fim

Apesar da comunidade de EA Land dizer que o jogo era um ambiente amigável e fraterno, existem vários estudos que investigaram os efeitos psicológicos de se ter um avatar em jogos e ambientes virtuais. E nem todos eles indicam um benefício ao bem-estar dos jogadores. Sobretudo quando há um término repentino, como no caso de EA Land.

Um estudo de 2014 publicado na revista Computers in Human Behavior descobriu que a identidade do avatar pode afetar o comportamento e a autoestima do jogador. Os jogadores que criaram avatares mais atraentes relataram se sentir mais confiantes e positivos em relação a si mesmos. Este efeito, chamado de Proteus, foi identificado também em um estudo realizado por Nick Yee e Jeremy Bailenson em 2007, intitulado “O efeito Proteus: o efeito da auto-representação transformada no comportamento”.

Nesse estudo, os participantes foram convidados a escolher um avatar para usar em um ambiente virtual. Em seguida, foram colocados em diferentes situações de jogo. Os resultados mostraram que a aparência do avatar afetou o comportamento do jogador, levando-os a agir de maneira diferente com base na identidade que assumiram no ambiente virtual. Outro estudo interessante a respeito desse tema se encontra aqui.

Um estudo de 2016 publicado na mesma revista descobriu que os jogadores que usaram avatares que se pareciam com eles mesmos tinham uma maior sensação de presença no mundo virtual e se envolviam mais com o jogo.

O caso The Sims

Em relação ao jogo The Sims, precursor de EA Land, um estudo de 2017 publicado na revista Computers in Human Behavior descobriu que os jogadores que criaram Sims que se pareciam com eles mesmos tinham uma maior sensação de conexão emocional com seus personagens e eram mais propensos a se envolver em atividades virtuais que refletiam seus interesses e hobbies na vida real.

Avatar personalizado do jogo The Sims 3
Avatar personalizado do jogo The Sims 3. Imagem: Dall-e

No entanto, também é importante notar que nem todos os jogadores de The Sims criavam avatares que se pareciam com eles mesmos, e que o uso de avatares em jogos e ambientes virtuais pode ter efeitos diferentes em pessoas diferentes

Alguns dos problemas psicológicos associados ao uso de avatar em jogos foram já relatados por usuários de The Sims, e também de EA Land. Sobretudo na questão da despersonalização. O uso excessivo de jogo com avatares podem levar a uma perda de senso de identidade pessoa. A pessoa começa a se identificar mais com seu avatar do que com sua verdadeira identidade.

É importante lembrar que o uso de avatar em jogos não é inerentemente prejudicial, mas sim a forma como a pessoa usa e se relaciona com seu avatar, que pode levar a dificuldades psicológicas. Por isso, as pessoas precisam ficar atentas aos seus hábitos de jogo e, se perceberem que estão experimentando algum tipo de problema relacionado ao seu uso, procurem ajuda.

Leia também: Descubra Macumbia!

Em Ótimo Estar

O impacto do fim de EA Land

O impacto do fim do jogo EA Land foi significativo para a comunidade de jogadores que havia investido tempo e esforço na construção de suas identidades virtuais e interações sociais dentro do jogo. Com o fechamento de EA Land, esses jogadores perderam seus personagens, objetos e conexões virtuais, o que pode ter sido uma experiência emocionalmente difícil para muitos deles.

Além disso, esse encerramento das atividades também levanta questões sobre a natureza do entretenimento digital e a propriedade dos conteúdos criados pelos usuários. Os jogadores investiram tempo e recursos na criação de conteúdo dentro do jogo. Mas eles não tinham controle sobre o destino desse conteúdo no caso de o jogo ser encerrado.

No geral, o fim do jogo EA Land pode ter sido significativo para os jogadores afetados, mas não representou um grande impacto cultural para a sociedade como um todo. No entanto, isso destaca a importância de considerar a natureza dos jogos e outras formas de entretenimento digital, bem como as implicações de longo prazo do investimento de tempo e recursos em plataformas virtuais.

Como preservar um jogo encerrado

A maioria dos jogos é fácil de arquivar. Para um jogo como o Pac-Man, tudo o que você precisa fazer é preservar o cartucho e o console. Mas o coração da EA-Land era a comunidade de pessoas que a usavam. Se você apenas salvasse o código do computador e o abrisse anos depois, tudo o que você teria seria um mundo vazio. Entra em cena o Dr. Henry Lowood, um pesquisador de arquivos em Stanford e chefe de um projeto chamado How They Got Game. Ele narra através de artigos e entrevistas o que ele preserva e o que acontece dentro de jogos e simulações digitais. Ele queria capturar as relações sociais que seriam perdidas quando a EA-Land escurecesse. Lowood estudou os momentos finais de EA-Land. Era como se estar no convés do Titanic.

Últimas horas do EA LAND. Fonte: canal do Youtube de Rodrigo Lima

Quando a EA Games desligou o servidor, pedaços do mundo começaram a desaparecer. O ambiente começou a se desintegrar. A textura das árvores tremeluziu. Todas as pessoas congelaram e desapareceram da existência. A última coisa que eles viram foi uma janela pop-up azul: “Erro de rede – Conexão com o servidor perdida”.

Tela do fim do jogo EA Land sem nenhum avatar
Tela do fim do jogo EA Land sem nenhum avatar. Imagem: canal do Youtube de Rodrigo Lima

Não deixe de conferir nossa matéria com cinco dicas práticas para um cérebro mais criativo.

Picture of Rodrigo Goldstein

Rodrigo Goldstein

Formado em comunicação social, com especialização em cinema pela UFF, Rodrigo trabalhou nas áreas de artes plásticas, publicidade, arquitetura e engenharia ambiental. Tem formação em pós graduação na Alemanha em mídias eletrônicas.
Este blog utiliza cookies para garantir uma melhor experiência. Se você continuar assumiremos que você está satisfeito com ele.